Uma feminista hipócrita
Me sinto uma feminista hipócrita quando vejo tantas mulheres na minha família criando crianças sozinhas. Uma mãe empresária que dá presentes para compensar a ausência, mas se sente mal porque não dá conta de tudo. Uma mãe que quase perdeu o filho e que agora se sente mais sozinha do que nunca. Uma mãe que… bem eu não sei… porque estou longe. Me sinto até privilegiada poder viver minha vida lá longe. Um privilégio que gera culpa também: vivo minha vida enquanto elas precisam se desdobrar para conseguir fazer o que precisa ser feito.
“Ah mas elas que quiseram ser mães”. Ninguém escolhe ser sozinha assim. Estar sozinha assim.
Tento compensar estando presente às vezes, mas essa presença parcial só serve para demonstrar apoio moral, só que apoio moral não leva a criança no hospital, apoio moral não fica com a criança enquanto a mãe trabalha.
Tento outra estratégia também: expor o absurdo que é essa exaustão a qual elas estão submetidos. Só que é tão difícil. Tão desafiador. Parece que as palavras não dão conta do que precisa ser explicado. Talvez seja daquelas coisas que só tendo uma experiência profunda permita a compreensão, mas não temos tempo pra isso. Gostaria que todo mundo entendesse e então, uma comunidade inteira cuidasse de todas as crianças.
Me sinto uma feminista hipócrita, mas não deixo de lembrar que, provavelmente, nenhum homem da minha família está pensando nisso.